9 de junho de 2013
''Olhe,
não fique assim não, vai passar. Eu sei que dói. É horrível. Eu sei
que parece que você não vai aguentar, mas aguenta. Sei que parece que
vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper
nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é
um bom lugar para se estar. (Fernando Pessoa escreveu, num momento
parecido, "hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu").
Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim:
arde, depois passa. Que pena. A gente acha que não vai aguentar, mas
aguenta: as dores da vida. Pense assim: agora tá insuportável, agora
você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar
um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada,
silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da
frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas
atrás.Você acha que não, porque esperar a dor passar é como olhar um
transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí
você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e
quando vai ver o barco já tá lá longe. A sua dor agora, essa fogueira
na sua barriga, essa sensação de que pegaram sua traqueia e seu
estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo – é difícil de
acreditar, eu sei – vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro
diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé,
ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, passou.
Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a
gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinicius: "É
melhor viver do que ser feliz". Porque pra viver de verdade a gente tem
que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar
e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que
ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e
dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem
de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma
coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A
gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, eu sei
como dói. Mas passa. Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você
não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue
andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai
querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque
depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de
deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai ser feliz. Tá vendo
essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda
vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô falando
a verdade. Eu não minto. Vai passar.''
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Quem sou eu
- Maria Clara Rocha
- Clara.Idade: 19.Falar a verdade não careço de muita lógica. Ou de mim se gosta ou esquece. Por gosto mesmo ficava de papo pro ar. Mas o que me faz feliz e apetece é cheiro de vinho, cabelo lavado, de escrever poesia pulando os dias, de frapê e filme iugoslavo. Qualquer dia desses faço feito Santos Dumont e construo minha casa na árvore.
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“O que é pior: chegar ao fundo do poço ou continuar caindo?'' -Prá virar cinza minha brasa demora!-
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