11 de junho de 2015
3 de junho de 2015
A engenharia venceu o amor. O cálculo superou a superstição. A prevenção arrebentou o romantismo. Nem Paris mais acredita no amor. Nem mais Paris.
A cidade terminou com a tradição dos apaixonados de colocar um cadeado de seu romance na Ponte des Arts. O medo de que a construção pudesse desabar desfez o segredo de tantas juras, de tantos nomes devotados. Sem piedade, foram retiradas 45 toneladas de cadeados perpetuadas por uniões arrebatadas, por casais fulminados pelo desejo de passar o resto do seu tempo com alguém.
A cidade de luz virou a cidade das sombras. Tal ladra traiçoeira, armada de alicates e serras elétricas, arrebentou as promessas de vida eterna de seus moradores e turistas. Não tinha a chave e a permissão para destruir as palavras de metal, para amaldiçoar o voto de fidelidade e lealdade. Não desfrutava de autorização para separar duas bocas se guardando. Invadiu a privacidade do enlace, o território do inefável, o mistério de uma noite estrelada.
Paris roubou o coração de milhões de pares ingênuos e crédulos. Traiu a natureza mineral de sua arte, já que a capital francesa é feita do bronze do Rodin. Derrubou uma árvore de barcos, carregada de frutos dourados. Derreteu alianças desprezando o próprio altar que criou. Estornou beijos e abraços sussurrados, cuspiu de volta as palpitações e os rumores do rio Sena.
Paris raspou o mel da lua, desidratou o sol, rompeu as trancas da fé.
Não existem atenuantes para o crime. Não vale trocar os gradis por placas ou campanhas de selfie.
O ato é de uma violência simbólica imperdoável. Como se a Fonte da Saudade arremessasse de volta todas as moedas depositadas em suas águas nas costas de seus fiéis.
Nem Paris dos cupidos e anjos nos altos dos prédios confia mais no casamento.
Talvez nunca tenha entendido o sentido de amar: o amor pesa, destrói pontes, deixa os amantes realmente ilhados. E isso jamais foi uma metáfora.
Fabrício Carpinejar
1 de junho de 2015
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- Maria Clara Rocha
- Clara.Idade: 19.Falar a verdade não careço de muita lógica. Ou de mim se gosta ou esquece. Por gosto mesmo ficava de papo pro ar. Mas o que me faz feliz e apetece é cheiro de vinho, cabelo lavado, de escrever poesia pulando os dias, de frapê e filme iugoslavo. Qualquer dia desses faço feito Santos Dumont e construo minha casa na árvore.
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